Apenas sei que do português se fez nossa existência...
quarta-feira, 8 de agosto de 2012
terça-feira, 9 de agosto de 2011
A Carta Pessoal
Por Profa. Patrícia Nara F.
Carvalho
A carta
pessoal é um gênero discursivo em que o autor do texto se dirige a um
interlocutor específico, com o qual pretende estabelecer uma comunicação à
distância. Diferentemente das mensagens eletrônicas que é um gênero que surgiu
com advento da internet, comunicação escrita muito rápida entre os
interlocutores das redes virtuais. A carta pessoal tem sua essência na
subjetividade, na escrita longa e mais formalizada. Nela, são relatados e
comentados os principais acontecimentos envolvendo os interlocutores durante um
determinado espaço de tempo.
Projeto na escola: Resgatando o valor da Carta Pessoal
Com uma
proposta diferenciada, os alunos do 3º ano do Ensino Médio puderam conhecer uma
nova tipologia textual: a carta pessoal. Nas sequências
didáticas foram enfocados como se caracterizam as cartas pessoais e sua relação com as mensagens eletrônicas, bem
como sua finalidade, semelhanças e diferenças entre os gêneros. Sua estrutura,
linguagem e contexto de circulação. O que se diferencia dos outros gêneros
narrativos, como os relatos, memórias, notícias etc. A proposta foi bem aceita
pelo grupo de alunos, o que gerou um trabalho prazeroso e bem original, nas
aulas de produção de textual.
Foram
levados para sala modelos de cartas de amor, originais, datadas da década de 40.
Foi entregue uma cópia para cada aluno onde puderam observar a estrutura, a
linguagem, o tipo de composição, contexto de circulação... Foi feita
interpretação oral e escrita, o uso dos pronomes pessoais neste tipo de
discurso, as diferenças com as mensagens eletrônicas (e-mails) etc. Na próxima
aula, foi solicitado que trouxessem cartas antigas de parentes e amigos (com
devida autorização). De início, houve resistência por parte de alguns alunos,
tendo em vista a dificuldade para encontrá-las, a final a maioria acabou
trazendo. As cartas foram expostas e
lidas. Trabalhou-se especificamente, neste dia, o tipo de linguagem, sua
estrutura e a importância de resgatar o valor para atualidade essa tipologia
textual, já esquecida nos tempos modernos.
O momento de partilha das leituras das cartas foi o mais significativo.
Houve quem riu e quem chorou, ao ouvir tantos relatos comoventes, engraçados,
românticos... Os alunos ficaram
impressionados com o linguajar culto, presentes em praticamente todas as
cartas. O que levou a uma reflexão acerca da linguagem formal, tão ignorado
pelos jovens de hoje. Foi explicado também que a carta pessoal é um gênero de
circulação de natureza privada, em oposição a outros gêneros de circulação.
Alguams
carta ue levadas par asal
O trabalho culminou
na proposta de uma produção de uma carta que os alunos deveriam escrever para
parente e amigos.
Houve quem
escrevesse carta até na língua inglesa:
Depoimentos de alguns alunos com relação ao projeto:
O aluno Gustavo Freitas, relatou assim a cerca de experiência:
“Gostei (e acho que todos nós alunos
gostamos) da iniciativa da Profª. Patrícia em nos
apresentar o gênero ‘Cartas’... O trabalho realizado em sala de aula foi
excelente, principalmente quando discutimos a importância que a carta tem e,
principalmente, a importante função que ela exerceu nas gerações passadas,
quando os meios de comunicação não eram ‘evoluídos’ como hoje. Foi realizada
uma apresentação interessante e muito inteligente, onde os alunos deviam
conseguir cartas que fizeram parte do passado de alguém. Nós, alunos,
apresentamos cartas muito legais, observando tudo que as Cartas escritas há
décadas atrás. Pudemos perceber que as cartas eram muito bem elaboradas e que
havia muito ‘sentimento’ nos relatos apresentados nela. Além disso, acho que
será inesquecível o fato de termos descoberto o quanto a carta foi importante
um dia...”
“Mas, o melhor de tudo foi às cartas enviadas
e recebidas de amigos ou parentes que moram longe. Pois foi um ótimo incentivo
a escrita, fazendo o aluno deixar um pouco o computador para treinar sua
redação e ter melhor capacidade de redigir textos, etc... João Eugênio
“O
trabalho com a produção de cartas, pouco usadas por nós jovens, resgatou um
mundo desconhecido por nós jovens, com linguagem sem gírias, abreviações,
tesouros que muitos nunca teriam a
oportunidade de conhecer . Cartas que muitas vezes falavam de amor, corações
apaixonados, mensagens de urgência que quando chegada ao seu destino eram tarde
demais. Cartas e cartas foram lidas, cada uma com seu jeito, mas toda a
expressão o verdadeiro português que hoje não se usa mais.” ( Turricelli Rezende Turrioni)
Para
aluna Isabela Brito:
“As aulas de produção de texto
estão cada vez mais interessantes. Os temas que são propostos vão melhorando
gradativamente. Mas o que mais gostei foi sobre Cartas, porque além de chamar
muita a minha atenção, mexeu com toda a sala. Eu não consigo entender porque as
cartas foram jogadas ao mar do esquecimento, pelo fato de ser algo tão
empolgante!”
Já
para aluna Taísa Vanessa
“Hoje em
dia ninguém escreve mais cartas, apenas teclam! Um hábito que era tão comum
antes do advento do computador, ficou no passado, virou histórias de nossos
pais e avós. As cartas possuem grande valor emocional, pois são escritas em
momentos extremos da vida de cada um, que permitem retratar situações únicas.
A aula da professora Patrícia nos permitiu ver as cartas de outra maneira, na qual o ato de escrever é uma arte, e como tal deverá ser estimulada e preservada, jamais renegada ao esquecimento, além de ter muito valor, sejam emotivos ou práticos, e nos ajuda a pensar duas vezes antes de enviar para quem amamos, pois exercitam nossa escrita de maneira mais formal.”
A aula da professora Patrícia nos permitiu ver as cartas de outra maneira, na qual o ato de escrever é uma arte, e como tal deverá ser estimulada e preservada, jamais renegada ao esquecimento, além de ter muito valor, sejam emotivos ou práticos, e nos ajuda a pensar duas vezes antes de enviar para quem amamos, pois exercitam nossa escrita de maneira mais formal.”
“Na sociedade
contemporânea o que era pra ser considerado um ato romântico ou educado vem
sendo julgado como tolice ou bobagem, atrofiando assim, a mente do ser humano.
E não é de se espantar o crescente número de mulheres que se interessam por
homens cada vez mais velhos.
Aliás,
é muito mais prático gastar trinta segundos teclando seu amor, do que expressar
com a caneta tudo que o coração pode sentir...”
Referência
Bibliográfica:
Abaurre, Maria Luiza e
Abaurre Maria Bernadete. Produção de texto: interlocução e gêneros. São Paulo –
Moderna, 2007
quinta-feira, 23 de junho de 2011
A mulher no poder
As desigualdades estão visíveis na
evolução de nossa espécie, onde já se criava um estereótipo do homem e da
mulher. Ambos tinham funções vitais para manter o equilíbrio da sobrevivência,
mostrando sua bravura e sabedoria de guerra ou trazendo o conforto. Atualmente a
inversão dos papéis denota uma dissociação referente ao comportamento dos sexos
perante a tomada de decisões, se compararmos com a história onde a mulher
sempre foi à classe dominada... A exposição feminina e sua participação no
cenário político têm gerado polêmicas, por se tratar de um fato único já que
não se dispõe de um canal para sua circulação pública, mantendo intacto um
pensamento retrógrado.
É notório que tais manifestos sejam
uma fase de nossa conturbada sociedade ou ramificações de uma ideologia
patriarcal, práticas estas que vem conquistando adeptos no mundo inteiro e
fazendo de uma teoria machista um fato legítimo, porém que motiva muitas
mulheres a conquistar importantes cargos empresariais e tornando-se vozes
imponentes na articulação política de nossa constituição. Já se constata que
“elas” possuem plenos domínios sobre atividades que permeiam um considerável
teor de intelectualidade, sendo criativas e demonstrando sua conduta ética onde
se perde através da racionalidade imparcial do homem.
Sua inserção nesta realidade autônoma se deu
através de tropeços que, oriundas do tempo, aprisionaram mulheres na sombra de
seus companheiros. Hoje essa postura tende a ser reforçada, pois vem galgando
um espaço pequeno, contudo significativo para a mudança de um estado desigual.
Sua forma sutil de emanar discursos ou mesmo de proferir ordens tem cativado os
olhos de cientistas políticos e estudiosos, pois é seguindo esse caráter que
poderemos alegar uma sociedade igualitária e concretizar a participação da
mulher que por sua vez deverá se tornar um instrumento desta sociedade e não se
fixar na inferioridade.
Já
não se pode pensar numa mulher submissa, contudo ela deve compreender sua
função social e partir para uma igualdade de participação, tanto no contexto
social, como no econômico, tendo em vista que sua atuação de igualdade cada vez
mais se concretiza. A mulher está vencendo e deverá vencer muito mais; mas sem
a prepotência de companheiras frustradas que brigaram consigo mesmas e se
debelaram contra aqueles que lhes deram “proteção” durante muito tempo e que
hoje está condenado como a fera diante da bela que só oferece amor, paz e
tranquilidade e só recebe violência e desafeto, no pensamento de algumas
feministas.
Por
Rafael Alves – 3º Período “D”
quinta-feira, 9 de junho de 2011
A dois
Inúmeras são as facetas do amor.
As vezes, obscuras como o inalcançável universo
É como perder-se no outro
E ganhar em prazer
É como enlouquecer com a doença que diz que é o amar
Numa dessas faces eu me perco, me entrego, me alimento
Delirando sem medo, deixando-me levar por imagens
distorcidas
De alguém que acelera minhas pulsações
Que aquieta meu coração, alma que clama
Não peço que somente segure minhas mãos
Quero que me carregue me proteja
Eleve-me, deixando me ver seu brilho, mergulhar no teu espírito
Vou ficando suspenso pelo ar, mal consigo respirar
Tirando-me desse mundo, seduzindo-me com sua voz, com seu
olhar efervescente
Vem e causa sensações, esquenta a chama da paixão
Algo sobrenatural, que me faz esquecer quem eu sou
Parecendo que vivo em você
E você vive em mim, o que já é fato certo e irreversível
Quero te dar o mais bonito poema de amor
As melhores palavras, selecionadas com peculiaridade
Perto da lua, desfaleço sozinha
Meus caminhos errantes me distanciam de você
Me levam a abismos que tentam me puxar...
Amor, que outrora era faísca, agora é fogo que consome
Invade o peito, cura a alma
Mas aparece e logo some
Uma trama irreversível
Vivo o drama de não poder te ter
Tentar tocar seu delicado rosto, seus traços perfeitos
Coração partido e vazio
Não resta nada de mim se não houver você
Um sentimento mudo que me emudece ao te ver
Suspenso vou vivendo, buscando um aconchego
Não preciso de muito pra ser feliz
Nem de tantas palavras pra te convencer, talvez um beijo...
Que a vida é passageira, eu assumo
Mas esse meu amor não pode ser
Pra não te perder de vista,
Escondo-me dentro de mim
Mas não há motivos pra fingir
Se quando fico comigo mesmo, só existo com você
Fico totalmente sem aliteração, minhas palavras saem
desordenadas, sem rimas, sem sentido, empobrecidas.
Sem você viro aquarela sem cor
Jardim sem flor
É como perder o chão e ainda o tê-lo abaixo dos pés
Se te escrevo é por medo de olhar em seus olhos
E não ver o sentimento recíproco a brilhar
Como é possível viver esse amor com medo de arriscar?
E a sinfonia toca
O pulsar do meu coração ressoa
Como pássaro que canta
Borboleta que voa
Vou me entregando pra você
Sem medo, nem receio
Não preciso me preocupar
Você é meu anjo que me guarda,
Vem e me leva pra voar?
Sou humano, pequeno
Mas minha peculiaridade é o amor
Que gela quando você parte
Mas quando te vê queima com fulgor
Você é força maior, algo surreal
Não existem palavras bonitas
Que possam sequer expressar
A beleza do seu sorriso
A imensidão do seu olhar
Uma estrela cadente, um pedido nada mais
Que você fique aqui pra sempre e ainda assim nunca será
demais
Minha canção é o amor
Vou seguir a passarada
Vem comigo anjo meu
Eternizar-nos nessa madrugada
Vem...
Natália Brito feat. Alexandre Sampaio
segunda-feira, 9 de maio de 2011
De volta ao primeiro beijo - MOACYR SCLIAR
"O primeiro beijo é uma coisa muito falada. Sem dúvida é uma experiência muito marcante, inesquecível. O primeiro beijo é uma maturação, uma descoberta. Ao mesmo tempo, para alguns, ele pode ser um monstro assustador", diz o cineasta Esmir Filho, diretor de "Saliva". O filme conta como Marina, uma garota de 12 anos, é pressionada a dar o seu primeiro beijo no experiente Gustavo.
Folhateen
TINHA ACABADO de ler a matéria sobre o primeiro beijo, no pequeno apartamento em que morava desde que ficara viúvo, anos antes, quando (coincidência impressionante, concluiria depois) o telefone tocou. Era uma mulher, de voz fraca e rouca, que ele de início não identificou:
- Aqui fala a Marília - disse a voz. Deus, a Marília! A sua primeira namorada, a garota que ele beijara (o primeiro beijo de sua vida) décadas antes! De imediato recordou a garota simpática, sorridente, com quem passeava de mãos dadas. Nunca mais a vira, ainda que freqüentemente a recordasse -e agora, ela lhe ligava. Como que adivinhando o pensamento dele, ela explicou: - Estou no hospital, Sérgio. Com uma doença grave... E queria ver você. Pode ser? - Claro -apressou-se ele a dizer- eu vou aí agora mesmo. Anotou rapidamente o endereço, vestiu o casaco, saiu, tomou um táxi. No caminho foi evocando aquele namoro, que infelizmente não durara muito tempo -o pai dela, militar, havia sido transferido para o Norte, com o que perdido o contato -mas que o marcara profundamente. Nunca a esquecera, ainda que depois tivesse beijado várias outras moças, uma das quais se tornara a sua companheira de toda a vida, mãe de seus três filhos, avó de seus cinco netos. E não a esquecera por causa daquele primeiro beijo, tão desajeitado quanto ardente. Chegando ao hospital foi direto ao quarto. Bateu; uma moça abriu-lhe a porta, e era igual à Marília: sua filha. Ele entrou e ali estava ela, sua primeira namorada. Quase não a reconheceu. Envelhecida, devastada pela doença, ela mal lembrava a garota sorridente que ele conhecera. Consternado, aproximou-se, sentou-se junto ao leito. A filha disse que os deixaria a sós: precisava falar com o médico. Olharam-se, Sérgio e Marília, ele com lágrimas correndo pelo rosto. - Você sabe por que chamei você aqui? -perguntou ela, com esforço. - Porque nunca esqueci você, Sérgio. E nunca esqueci o nosso primeiro beijo, lembra? Na porta da minha casa, depois do cinema... - Claro que lembro, Marília. Eu também nunca esqueci você... - Pois eu queria, Sérgio... Eu queria muito... Que você me beijasse de novo. Você sabe, os médicos não me deram muito tempo... E eu queria levar comigo esta recordação... Ele levantou-se, aproximou-se dela, beijou os lábios fanados. E aí, como por milagre, o tempo voltou atrás e de repente eles eram os jovenzinhos de décadas antes, beijando-se à porta da casa dela. Mas a emoção era demais para ele: pediu desculpas, tinha de ir. A filha, parada à porta do quarto, agradeceu-lhe: você fez um grande bem à minha mãe. E acrescentou esperançosa: - Acho que ela agora vai melhorar. Não melhorou. Na semana seguinte, Sérgio viu no jornal o convite para o enterro. Mas, ao contrário do que poderia esperar, apenas sorriu. Tinha descoberto que o primeiro beijo dura para sempre. Ou pelo menos assim queria acreditar.
- Aqui fala a Marília - disse a voz. Deus, a Marília! A sua primeira namorada, a garota que ele beijara (o primeiro beijo de sua vida) décadas antes! De imediato recordou a garota simpática, sorridente, com quem passeava de mãos dadas. Nunca mais a vira, ainda que freqüentemente a recordasse -e agora, ela lhe ligava. Como que adivinhando o pensamento dele, ela explicou: - Estou no hospital, Sérgio. Com uma doença grave... E queria ver você. Pode ser? - Claro -apressou-se ele a dizer- eu vou aí agora mesmo. Anotou rapidamente o endereço, vestiu o casaco, saiu, tomou um táxi. No caminho foi evocando aquele namoro, que infelizmente não durara muito tempo -o pai dela, militar, havia sido transferido para o Norte, com o que perdido o contato -mas que o marcara profundamente. Nunca a esquecera, ainda que depois tivesse beijado várias outras moças, uma das quais se tornara a sua companheira de toda a vida, mãe de seus três filhos, avó de seus cinco netos. E não a esquecera por causa daquele primeiro beijo, tão desajeitado quanto ardente. Chegando ao hospital foi direto ao quarto. Bateu; uma moça abriu-lhe a porta, e era igual à Marília: sua filha. Ele entrou e ali estava ela, sua primeira namorada. Quase não a reconheceu. Envelhecida, devastada pela doença, ela mal lembrava a garota sorridente que ele conhecera. Consternado, aproximou-se, sentou-se junto ao leito. A filha disse que os deixaria a sós: precisava falar com o médico. Olharam-se, Sérgio e Marília, ele com lágrimas correndo pelo rosto. - Você sabe por que chamei você aqui? -perguntou ela, com esforço. - Porque nunca esqueci você, Sérgio. E nunca esqueci o nosso primeiro beijo, lembra? Na porta da minha casa, depois do cinema... - Claro que lembro, Marília. Eu também nunca esqueci você... - Pois eu queria, Sérgio... Eu queria muito... Que você me beijasse de novo. Você sabe, os médicos não me deram muito tempo... E eu queria levar comigo esta recordação... Ele levantou-se, aproximou-se dela, beijou os lábios fanados. E aí, como por milagre, o tempo voltou atrás e de repente eles eram os jovenzinhos de décadas antes, beijando-se à porta da casa dela. Mas a emoção era demais para ele: pediu desculpas, tinha de ir. A filha, parada à porta do quarto, agradeceu-lhe: você fez um grande bem à minha mãe. E acrescentou esperançosa: - Acho que ela agora vai melhorar. Não melhorou. Na semana seguinte, Sérgio viu no jornal o convite para o enterro. Mas, ao contrário do que poderia esperar, apenas sorriu. Tinha descoberto que o primeiro beijo dura para sempre. Ou pelo menos assim queria acreditar.
Produção de texto
Você se lembra de seu primeiro beijo? Ou ele ainda não aconteceu? Se aconteceu, escreva um relato bem criativo contando como foi. Se não, use a imaginação e conte como você gostaria que fosse.
CRÔNICA
Ser goiano
Ser goiano é carregar uma tristeza
telúrica num coração aberto de sorrisos. É ser dócil e falante, impetuoso e
tímido. É dar uma galinha para não entrar na briga e um nelore para sair dela.
É amar o passado, a história, as tradições, sem desprezar o moderno. É ter
latifúndio e viver simplório, comer pequi, guariroba, galinhada e feijoada, e
não estar nem aí para os pratos de fora.
Ser goiano é saber perder um pedaço de
terras para Minas, mas não perder o direito de dizer também uai, este negócio,
este trem, quando as palavras se atropelam no caminho da imaginação.
O goiano da gema vive na cidade com um
carro-de-boi cantando na memória. Acredita na panela cheia, mesmo quando a
refeição se resume em abobrinha e quiabo. Lê poemas de Cora Coralina e sente-se
na eterna juventude.
Ser goiano é saber cantar música caipira
e conversar com Beethoven, Chopin, Tchaikovsky e Carlos Gomes. É acreditar no
sertão como um ser tão próximo, tão dentro da alma. É carregar um eterno
monjolo no coração e ouvir um berrante tocando longe, bem perto do sentimento
Ser goiano é possuir um roçado e sentir-se um
plantador de soja, tal o amor à terra que lhe acaricia os pés. É dar tapinha
nas costas do amigo, mesmo quando esse amigo já lhe passou uma rasteira.
O goiano de pé-rachado não despreza uma pamonhada e teima em dizer ei, trem bão, ao ver a felicidade passar na janela, e exclama viche, quando se assusta com a presença dela.
O goiano de pé-rachado não despreza uma pamonhada e teima em dizer ei, trem bão, ao ver a felicidade passar na janela, e exclama viche, quando se assusta com a presença dela.
Ser goiano é botar os pés uma botina ringideira e
dirigir tratores pelas ruas da cidade. É beber caipirinha no tira-gosto da
tarde, com a cerveja na eterna saideira. É fabricar rapadura, ter um passo
preto nos olhos e um santo por devoção.
O goiano histórico sabe que o Araguaia não passa de
um "corgo", tal a familiaridade com os rios. Vive em palacetes e se
exila nos botecos da esquina. Chupa jabuticaba, come bolo de arroz e toma licor
de jenipapo. É machista, mas deixa que a mulher tome conta da casa.
O bom goiano aceita a divisão do Estado, por entender que a alma goiana permanece eterna na saga do Tocantins.
Ser goiano é saber fundar cidades. É pisar no Universo sem tirar os pés deste chão parado. É cultivar a goianidade como herança maior. É ser justo, honesto, religioso e amante da liberdade.
Brasilia em terras goianas é gesto de doação, é patriotismo. Simboliza poder. Mas o goiano não sai por aí contando vantagem.
Ser goiano é olhar para a lua e sonhar, pensar que é queijo e continuar sonhando, pois entre o queijo e o beijo, a solução goiana é uma rima.
O bom goiano aceita a divisão do Estado, por entender que a alma goiana permanece eterna na saga do Tocantins.
Ser goiano é saber fundar cidades. É pisar no Universo sem tirar os pés deste chão parado. É cultivar a goianidade como herança maior. É ser justo, honesto, religioso e amante da liberdade.
Brasilia em terras goianas é gesto de doação, é patriotismo. Simboliza poder. Mas o goiano não sai por aí contando vantagem.
Ser goiano é olhar para a lua e sonhar, pensar que é queijo e continuar sonhando, pois entre o queijo e o beijo, a solução goiana é uma rima.
(TELES, José Mendonça. Crônicas de Goiânia.
Goiânia: Kelps, 1998)
José Mendonça Teles nasceu em Hidrolândia, GO,
no dia 25 de março de 1936. Filho de João Alves Teles e Celuta Mendonça Teles.
Bacharel em Direito pela Universidade Católica de Goiás, onde lecionou durante
33 anos, recebendo, em 2003 o título de Doutor Honoris Causa.
Presidente do Instituto
Histórico e Geográfico de Goiás durante 12 anos e presidente da Academia Goiana
de Letras por 10 anos, ex-secretário de Cultura de Goiânia e ex-presidente do
Conselho Estadual de Cultura de Goiás, é historiador, poeta, contista,
cronista, ensaísta, dicionarista e jornalista, e autor de 33 livros
relacionados com a cultura goiana, entre eles Vida e Obra de Silva e Souza,
A Imprensa Matutina, General Curado - Estudo Biográfico, A Cidade
do Ócio e Dicionário do Escritor Goiano. Coordenou vários projetos
culturais goianos, entre eles o projeto resgate, idealizado pelo Ministério da
Cultura, que trouxe para Goiás, micro-filmados, documentos goianos existentes
no Arquivo Ultramarino de Lisboa, no período de 1731 a 1822. Pertence a várias
instituições culturais do país, com várias condecorações e medalhas, entre elas
a Medalha João Ribeiro, da Academia Brasileira de Letras. É autor da letra do
Hino Oficial de Goiás.
30 dicas para escrever bem
Professor João Pedro – Unicamp/SP
02. Anule aliterações altamente abusivas.
03. Analogias na escrita são tão úteis quanto chifres numa galinha.
04. Conforme recomenda a A.G.O.P., nunca use siglas desconhecidas.
05. Cuidado com a hortografia, para não estrupar a língúa portuguêza.
06. Deve evitar ao máx. a utiliz. de abrev., etc.
07. É desnecessário fazer-se empregar de um estilo de escrita demasiadamente rebuscado. Tal prática advém de esmero excessivo que raia o exibicionismo narcisístico.
08. Evite lugares-comuns como o diabo foge da cruz.
09. Evite repetir a mesma palavra, pois essa palavra vai ficar uma palavra repetitiva. A repetição da palavra vai fazer com que a palavra repetida desqualifique o texto onde a palavra se encontra repetida.
10. Evite frases exageradamente longas, pois estas dificultam a compreensão da idéia nelas contida e, por conterem mais que uma idéia central, o que nem sempre torna o seu conteúdo acessível, forçam, desta forma, o pobre leitor a separá-la nos seus diversos componentes de forma a torná-las compreensíveis, o que não deveria ser, afinal de contas, parte do processo da leitura, hábito que devemos estimular através do uso de frases mais curtas.
11. Estrangeirismos estão out; palavras de origem portuguesa estão in.
12. Evite o emprego de gíria, mesmo que pareça nice, sacou??…Então valeu!
13. Não esqueça que o texto deve conter início, meio e fim.
14. Exagerar é cem milhões de vezes pior do que a moderação.
15. Frases incompletas podem causar
16. Frases com apenas uma palavra? Jamais!
17. Não abuse das citações. Como costuma dizer um amigo meu: “Quem cita os outros não tem idéias próprias”.
18. Não abuse das exclamações! Nunca!!! O seu texto fica horrível!!!!!
19. Nunca generalize: generalizar é um erro em todas as situações.
20. não esqueça as maiúsculas no inicio das frases.
21. Não seja redundante, não é preciso dizer a mesma coisa de formas diferentes; isto é, basta mencionar cada argumento uma só vez, ou por outras palavras, não repita a mesma idéia várias vezes.
22. Não fique escrevendo (nem falando) no gerúndio. Você vai estar deixando seu texto pobre e estar causando ambigüidade, com certeza você vai estar deixando o conteúdo esquisito, vai estar ficando com a sensação de que as coisas ainda estão acontecendo. E como você vai estar lendo este texto, tenho certeza que você vai estar prestando atenção e vai estar repassando aos seus amigos, que vão estar entendendo e vão estar pensando em não estar falando desta maneira irritante.
23. O uso de parêntesis (mesmo quando for relevante) é desnecessário.
24. Outra barbaridade que tu deves evitar tchê, é usar muitas expressões que acabem por denunciar a região onde tu moras! ..Nada de mandar esse trem…vixi..entendeu bichinho?
25. Palavras de baixo calão, porra, podem transformar o seu texto numa merda.
26. Quem precisa de perguntas retóricas?
27. Seja mais ou menos específico.
28. Seja incisivo e coerente, ou não.
29. Utilize a pontuação corretamente o ponto e a vírgula, pois a frase poderá ficar sem sentido especialmente será que ninguém mais sabe utilizar o ponto de interrogação
30. Não permita que seu texto acabe por rimar, porque senão ninguém irá agüentar já que é insuportável o mesmo final escutar, o tempo todo sem parar.
Para Relembrar!
Voz verbal é a flexão do verbo que indica se o sujeito pratica, ou recebe, ou pratica e recebe a ação verbal. Voz Ativa: quando o sujeito é agente, ou seja, pratica a ação verbal ou participa ativamente de um fato. Ex. As meninas exigiram a presença da diretora. A torcida aplaudiu os jogadores.
Voz Passiva: quando o sujeito é paciente, ou seja, sofre a ação verbal. Ex. Aplaudiram os jogadores Compram-se roupas usadas.
Analogia: É uma relação de equivalência, comparação.
Aliteração: É uma figura de linguagem que consiste em repetir consoantes, vogais ou sílabas num verso ou numa frase, especialmente as sílabas tônicas.
Retórica: É a técnica (ou a arte, como preferem alguns) de convencer o interlocutor através da oratória, ou outros meios de comunicação.
Redundante: Significa dizer a mesma coisa mais de uma vez. Geralmente a redundância prejudica um texto. Mas há situações em que ela é justificável e necessária, como em um texto didático em que o autor repete de propósito conceitos ou os redige em outras palavras, usando a repetição como um recurso para acentuar pontos importantes do assunto.
terça-feira, 3 de maio de 2011
Memórias
“Estes textos
foram publicados no livro do Colégio Estadual Jalles Machado : “Como as nuvens de
algodão, as lembranças vêm e vão” -
Memórias vivas de quem viu Goianésia nascer”, em
homenagem aos pioneiros da cidade e
Goianésia - Goiás. Fruto das oficinas oferecidas pela Olimpíada de Língua Portuguesa – Escrevendo o
futuro - 2008 - Gênero Memórias.
As lavadeiras do Córrego Sabiá
_ Óia o bicho!
_ Aonde?
aonde?
Negra Velha sempre acreditava e não tinha quem não
ria. Mas também, coitada, nem se prevenia, no meio de suas pernas roupa de
baixo não existia, e com o seu reflexo na água, não tinha quem não percebia.
Essa vida de ir ao Córrego Sabiá era cansativa,
mulher de cá e mulher de lá, esfrega daqui e dacolá. “Quará” uma roupa ali e
outra no canto de cá. Mas na hora de almoçar, Dalva tinha que roubar o que
tinha de mais gostoso no prato de Maria só para vê – la furiosa.
Enfrentado um caminho difícil antes de tudo,
papai era um lutador, mas a seca foi maior que sua luta e já não tinha mais sua
Fazenda Veneza no interior do Piauí.
Nossa maior alegria foi a compra de nossa
humilde casa, onde felicidade nunca faltou. E então, nos adaptamos, finalmente
por aqui, Rua Vila Nova onde quatro casas eram o que existiam, nesse interior
que quase ninguém conhecia.
O melhor mesmo, para nós que já estávamos
mocinhas, eram as missas de domingo.
Quando terminava ficávamos de olho no cimentado e na barraca de palha.
Era uma festança só! Música no autofalante para a namorada vai e vem entre
moças e rapazes. A energia da cidade era só até dez horas, quando não vinha o
trator para fornecer luz às barraquinhas e assim, aumentar o tempo da festa.
Que tempo bom!
Infelizmente, logo tínhamos que ir embora, não
era gosto de papai e mamãe que demorássemos, pois ficavam muito bravos. E além do mais, não nos deixavam namorar.
Mas quem disse que importávamos com isso? Não mesmo. Escondido era o único
jeito.
Coitado de papai! Quantas vezes não tínhamos nem o que comer, pois era
suas idas às fazendas em busca de compradores para suas joias que ele ganhava o
sustento para nossa família.
Hoje, ficaram apenas lembranças: das brincadeiras de infância, dos
momentos alegres nas águas claras do Córrego Sabiá (atualmente chamado de
Córrego Portal) onde lavávamos roupas para alguns dos moradores da cidade. Além
de tudo, um ponto de encontro, tantas mulheres e vários tipos de assuntos. Ali
se sabia de tudo: quem casou com quem, quem fugiu para casar, se havia morrido
alguém ou se o filho de alguém tinha nascido...
E assim, o tempo passava de modo tranquilo e a luta do dia a dia ficava
mais prazerosa.
Se temos mais a dizer?
Quantas histórias ainda podemos
contar, mas como são tantas, para isso um livro teríamos que editar.
Mas não fique curioso ou acanhado (a), na Rua
27 número 406 ainda há muito que se dizer. Somos três Marias: Maria Devani Caetano, Xanxa Maria de Jesus e Adália Maria de Carvalho, vindas do nordeste,
mas adotadas por esta terra, Goianésia, onde criamos raízes há 48 anos.
(Baseado na história destas três Marias,
mulheres de fibra que construíram sua história às margens do Córrego Sabiá, atualmente
separa o centro da cidade com o Setor Universitário e Jardim Pôr do Sol.)
Autora: Marília Ferreira Carneiro
De salto alto e vestido rodado também fiz
parte desta história
Como me lembro
daquele dia. Um marco em minha vida. E já faz 53 anos da minha chegada aqui em Goianésia. Quanto
tempo se passou e parece que foi ontem!
Uma cidadezinha
simples com poucas casas, humildes... As ruas com valas que cabiam homens de
pé. Aquele córrego tão cheio, nem ponte
ainda havia.
Hum... Lembro-me de como era bom sentar
na porta de casa, conversar com os vizinhos até mais tarde, ir para as festas
da igrejinha lá na pracinha do centro, à escolha da garota mais bonita da
barraquinha, os bailes e as folias.
Como esquecer o
“vai e vem” – os namorados, grupos de amigos içavam pra lá e pra cá em frente a
um auto falante, ouvindo música. Esse auto falante era de Florisvaldo Europeu.
Casei-me dois
anos após ter chegado aqui, na igrejinha da pracinha, com Jorge Andrade
Martins. Fui muito feliz, com ele tive meus cinco filhos, Hideraldo, Maria
Alis, Flávio, Múcio e o Jorge Jr. Mas infelizmente, o destino nos prega peças
irreparáveis, meu grande amor foi assassinado em frente minha casa.
Lembro-me com
saudade de nosso tempo de namoro, nós éramos vigiados em casa e quando saíamos, papai e mamãe iam
juntos. Eu, sempre bem arrumada...
Minhas roupas todas engomadas por mamãe para que ficassem armadinhas.
Lembro-me dos vestidos que usava, todos rodados e eu, sempre no salto.
Quantas
lembranças... O primeiro grupo escolar chamado Ramos Jubé, localizado no Bairro
Santa Luzia, perto da Feira Coberta Mário Silva. Ele foi criado em 1950, porém
a maioria das moças iam para Pirenópolis estudar. O mais interessante é que
eram levadas de jipe.
Lembro-me de
seu Noraldino e seu Guilherme,
ambos farmacêuticos, pois eram eles que
cuidavam das pessoas doentes da cidade, mas quando havia soluções para
os problemas mais graves, os pacientes eram encaminhados para a cidade de Jaraguá
ou para capital Goiânia.
Referindo-me à
Goiânia, recordo também das “jardineiras” que faziam o transporte daqui pra lá.
Elas saiam pelas seis horas da manhã e chegavam a Goiânia por volta de dezoito
horas. Eram quase doze horas de viagem. Muito tempo, comparado aos dias atuais.
Afinal soma-se mais ou menos 180 quilômetros o trajeto de Goianésia até a
capital. Como os tempos mudaram!
Era uma época
boa de se viver, a cidade tinha um
cheiro diferente, todos andavam de bicicleta, a pé ou de carroça; não era como
hoje que o povo vive dentro de carros, aumentando cada vez mais a poluição e o
sedentarismo.
Papai foi dono
de um hotel chamado São José, que ficava em frente o atual
Banco Itaú. Ele também possuiu um
bar e juntamente com mamãe comandou a “Casa de Tecidos Goialina”. Lembro –
me também de muitos outros
estabelecimentos, como tinha a “Casa de
Tecido Piauí”, do Zé Carvalho, um bar de sinuca do seu Américo, a pensão do seu
Guido e um bar onde vendiam-se passagens, que era de seu Geraldo.
Goianésia, cidade que me marcou, onde
vivi grandes momentos de minha vida. Tenho muito orgulho dessa terra; terra de
gente bonita.
Ter visto
Goianésia crescer, dado os primeiros passos evolutivos me traz felicidade.
Hoje, com meus 68 anos, quero que meus netos, vivam também nessa cidade. Quando
olho para trás vejo um passado de glórias, meus olhos se enchem de lágrimas,
por ter feito parte dessa história condecorada.
(Este texto foi baseado no depoimento da empresária
D. Marlene Santana Martins, proprietária do Príncipe Hotel)
Autor: Alexandre de Paula Sampaio
Da sombra do
baruzeiro à construção de um sonho
Assim como em uma novela, a vida
vai seguindo o seu roteiro, assim também ela tem seus autores e atores e,
dividida em capítulos, apresentam cenas de felicidade, de sofrimentos e de
vitórias... Que nos restauram a cada dia. No final de cada capítulo, um novo
dia recomeça e ficamos na expectativa do
que está por vir. Com a vida de todos é assim, a minha não poderia ser
diferente.
Nasci no dia 31 de janeiro de 1921, a
partir daí comecei a escrever minha novela.
Logo no início, com apenas dois anos de idade, foi gravado o
primeiro capítulo de perda que retrava a morte do meu pai. Perdi o colo paterno
antes mesmo de ter tido total conhecimento sobre ele, perder um homem que, com
sua dignidade, ia aos poucos me revelando Deus.
Foi morar com meu avô em uma fazenda,
região que aos poucos foi construída a belíssima cidade de Goianésia. A partir
dessa época, tive a prova concreta de que a vida não foi nada fácil.
As brincadeiras de infância? Muito
diferentes das de hoje, pois não sei se poderíamos chamá-las de brincadeira:
montar em um cavalo e ir olhar gado no pasto. Eh! Sei que hoje, isso é trabalho
pra vaqueiro contratado e não apenas uma simples diversão de menino! Mas me
sentia na obrigação de ajudar meu avô na lida de todo dia. Uma das cenas que
mais me faziam bem era quando chegava o cair da tarde e eu podia relaxar
contemplando os últimos raios do sol, vendo as nuvens brincar de mudar de cor
no céu.
Com doze anos fui para escola, cursei
só até o quarto ano. O ensino não era muito qualificado devido à falta de
recursos, mas amadureceu minha dignidade e me trouxe ensinamentos da vida,
realçando o homem que crescia dentro de mim. A figura da palmatória me fez
conhecer o valor do respeito, nunca vi a mesma sendo usada, mas vi faces de desobediência
sendo transformadas em formas de educação ao deparar com ela. Repressora? Com
certeza. Mas era assim a forma daquela época de se impor respeito. Coisa que
muito aluno não tem por seu professor, nos dias de hoje. O que é lamentável!
E assim, minha vida ia seguindo seu
curso... Lembro-me do pequeno vilarejo que foi batizado com o nome de
Goianésia, tudo era meio pacato comparando ao que se transformou hoje. Os
comércios mais freqüentados eram os tradicionais botecos. O tempo passava em
câmera lenta, todos eram amigos de todos, todos ajudavam como podiam. Lembro-me
também que, naquele tempo, não havia hospitais, tudo era muito precário e as
conduções era um recurso que poucos podiam desfrutar. Mas como eu tinha um jipe
novo, que sempre conservei, eu podia levar as pessoas que estavam precisando de
atendimento médico mais serio para as cidades mais desenvolvidas ao redor de
Goianésia. E assim, acredito que ajudei a muitos.
Sempre que toco nesse assunto, me
recordo de um grande amigo, que atendia os pacientes que levava com muito
carinho e responsabilidade: o doutor Domingos, que já é falecido. Perdi a conta
de quantas noites passei na estrada levando ou trazendo pessoas doentes ou que
precisavam de notícias.
Era carteiro e motorista daquela
gente. Nunca senti, de forma alguma, no direito de queixar, pois quando eu me
sentia útil, me restaurava a alma e assim era feliz.
Quando fecho os olhos à imagem que
predomina nos meus pensamentos é de uma árvore, estranho né? Mais estou falando
do baruzeiro, no centro da Praça Matriz. Quantas lembranças e reflexões que
aquele baruzeiro me traz! Ele sempre esteve ali, no centro de tudo, como um
ponto inicial, como num meio de um sonho que estava para ser construído e
encabeçado por meu amigo Laurentino Martins e realizado por pessoas de garra,
pessoas que não só sonharam, mas que fizeram mais do que seus sonhos podiam
proporcionar.
Vi Goianésia nascer, passar por
dificuldades, vencer barreiras, crescer, evoluir e se tornar essa bela cidade:
acolhedora e de gente forte, que trabalha para seu bem estar.
E assim foi a história principal da
minha novela, trabalhei muito, mais sempre com honestidade, casei e tive oito
filhos, aliás, oito bênçãos de Deus, que me deram mais do que orgulho, me
ofereceram força para viver. A fé, a coragem e a honestidade foram sementes que
sempre plantei no coração de cada um deles. Hoje, todos são bem sucedidos,
todos realizaram sonhos, mais nunca deixando de sonhar.
Agora, posso dizer sem medo de errar,
que sou um homem realizado, pois nunca esperei a vida perfeita, mas sempre
lutei para aperfeiçoar a minha. Agradeço a Deus por oportunidades colocadas no
meu caminho, agradeço também por ter me dado sabedoria suficiente para saber
aproveitar tais oportunidades. E o que acalenta e me deixa ainda mais
satisfeito é saber que minha novela nunca vai ter fim, pois aí está você pra
dar continuidade na novela à vida.
E só saber viver!
(História fundamentada na vida do Sr.
Anísio Mendes da Silva, colaborador na construção de Goianésia – GO.)
Autora: Italliane Martins Gomes
Segunda Guerra Mundial: memórias de um ex-combatente
Nasci embalado pelo
canto dos pássaros, porém tive a infância interrompida aos seis anos pelo
trabalho, mas isso não foi o pior. O destino se encarregou de preparar uma surpresa
desagradável e muito dolorosa. Com apenas 12 anos, meus pais foram levados como
se fossem folhas que caem no outono e, bocadas pelo vento, nunca mais voltaram.
A vida não foi fácil daí
por diante, o que me levou a servir e lutar por minha nação. Com apenas 17 anos, comecei a ver a vida com
outros olhos, só que não sabia que mal ingressando no exército no ano de 1940,
enfrentaria a II Guerra Mundial. Mas segui em frente. O soldado não abandona
sua pátria e sim luta por ela. Fui
recrutado para o Litoral do Cabo Santo Agostinho em Pernambuco, onde fiquei por
um ano e sete meses. Durante esse tempo, passei quarenta dias em alto mar,
tentando impedir que os alemães chegassem ao Brasil. Corríamos riscos, mas
estávamos sempre preparados e em alerta, pois somente nos lembrávamos das
pessoas que havíamos deixado para traz: familiares, amigos... Enfim, nosso povo
brasileiro. Procurava não pensar no
outro dia, a angústia e o medo de cada hora e cada minuto era o que eu e meus
companheiros estávamos vivendo.
Com o final da guerra,
decidi que já era hora de voltar e começar uma nova história de vida.
De volta à Petrolina o
destino me preparou uma grande surpresa, me presenteando com uma pessoa
maravilhosa. Lembro-me até hoje a primeira vez que a vi. Estava linda! A
conheci na Igreja Nossa Senhora d’Abadia e ali começamos a namorar. Como naquela época os casamentos não tinham
namoros demorados, logo nos unimos pelos
laços sagrados do matrimônio. Por influência do meu sogro vim parar em
Goianésia e aqui me tornei um dos primeiros comerciantes.
Assim, minha vida seguiu seu rumo... Como
morador desta cidade, ajudei na construção do Lions Clube, sendo um dos sócios
fundadores. Desde criança, gostava de
futebol, deixei que essa paixão falasse mais alto a ponto de me tornar um
membro importante no Goianésia Esporte Clube.
Como naquela época o
homem não podia ficar sem trabalho, tive que me virar em vários empregos,
tornei-me Juiz de Paz, realizando vários casamentos. Cada enlace matrimonial que fazia, me vinha
na lembrança o dia do meu casamento, uma
festa maravilhosa!
Também fui gerente do
INSS, ajudei na construção da Igreja da Matriz, e freqüentei muito as festas,
principalmente as barraquinhas da igreja sempre acompanhadas da minha bela
esposa, sempre deslumbrante.
Conheci muito bem
Laurentino Martins _fundador e ex-prefeito desta cidade _ e até recebi proposta
para torna-me político, mas preferi continuar minha vida simples como sempre
foi.
Hoje posso dizer que
passei minha vida em Goianésia sempre procurando ajudar os mais
necessitados. Como forma de retribuir a
todos que me acolheram de braços abertos, nesta querida e estimada cidade,
tomei a iniciativa de edificar o Lar São Vicente de Paulo, que até hoje
continua prestando um relevante serviço à comunidade goianesiense.
Hoje tenho orgulho de
dizer que, como ex- combatente da 2ª Guerra Mundial, trabalhei pela paz e pela
democracia. Posso afirmar que lutei contra os obstáculos, enfrentei desafios,
aprendi com os erros, superei meus limites e, principalmente, descobri que o
importante não é o quanto vivemos e sim o que fazemos quando estamos vivos.
Seja lutando pela paz no mundo, seja fazendo o bem pelo próximo na própria
comunidade.
(Texto baseado na
entrevista com o Sr. Altamiro Araújo Siqueira, ex- combatente da Segunda Guerra
Mundial e fundador do Lar São Vicente de Paulo)
Autora: Taisa Vanessa da Silva
Goianésia: uma história que ajudei a construir
Quando vejo as panelas de ferro, os tachos de cobre, o ferro à brasa e
o rádio antigo me lembro o início da minha vida em Goianésia, cidade que vi
crescer, evoluir... Acompanhei de perto o nascimento desta cidade que amo de
coração, e sei que de alguma forma contribui com a mesma.
Olhar cada esquina, cada rua, cada comércio me traz uma saudade imensa
daqueles tempos onde o progresso começava como um sopro de vida e, ao mesmo
tempo, faz-me orgulhar mais e mais desta grande família que é o povo
goianesiense. Este município que antes era dependente de Jaraguá, hoje é visto
com grande prestígio.
Por isso não me canso de dizer que sou cidadã goianesiense de coração
e que sou apaixonada por Goianésia, lugar para onde vim morar em 1949, na
Fazenda Itajá. Casei-me neste mesmo ano com Otávio... Ah Otávio! Homem que
contribuiu muito para o avanço e desenvolvimento do município.
Quando chegamos aqui, não tínhamos muitos bens e meu sogro sempre nos
ajudava, porém com o tempo, fomos construindo nosso patrimônio _ alicerce para
a economia de Goianésia. Otávio se formou em engenharia e consigo trouxe
inovações e avanços para a agricultura. Eu, sempre cuidei da nossa casa e da
educação de nossos filhos.
Minha vida foi um modo interiorano, pois ficava mais na fazenda. Por
isso, não era com frequencia ir a festividades na cidade, mas quando ia... Como
era gostoso estar com os amigos! Lembro-me que as vestimentas eram discretas e
menos sensuais.
Casamento da família, Natal e Ano Bom (Ano Novo) eram datas de grande
valor. Que alegria era ver a família toda reunida!
Muitas coisas mudaram do começo para agora. Era até engraçado, demorava duas a três horas
para completar a ligação telefônica, as escolas eram precárias, as ruas nem
eram cascalhadas, a energia era fraquinha...
O
progresso chegou. Foi emocionante! Vieram às ligações interurbanas e
internacionais, escolas de qualidade e energia mais eficaz. Lembro-me da
primeira que tive a oportunidade de me beneficiar com aquela tecnologia que era
utilizada apenas por uma minoria: falei com meu filho “Otavinho” que estava nos
Estados Unidos. Foi comovente, pois Goianésia estava no auge do
desenvolvimento.
O que era rotina agora é saudade...
Ver Goianésia nascer, evoluir e
desenvolver foi uma grande satisfação e orgulho. Afinal, faço parte desta
história que ajudei a construir.
Goianésia, minha querida cidade. Goianésia, minha casa.
(História baseada na vida de Marilda Fontoura de Siqueira – 82 anos
nascida no município de Conquista (Triangulo Mineiro) em 1927, grande
contribuidora no desenvolvimento da cidade de Goianésia – GO)
Autora: Ana Carolina Ferreira Silva
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