terça-feira, 9 de agosto de 2011

A Carta Pessoal



Por Profa. Patrícia Nara F. Carvalho

A carta pessoal é um gênero discursivo em que o autor do texto se dirige a um interlocutor específico, com o qual pretende estabelecer uma comunicação à distância. Diferentemente das mensagens eletrônicas que é um gênero que surgiu com advento da internet, comunicação escrita muito rápida entre os interlocutores das redes virtuais. A carta pessoal tem sua essência na subjetividade, na escrita longa e mais formalizada. Nela, são relatados e comentados os principais acontecimentos envolvendo os interlocutores durante um determinado espaço de tempo.



Projeto na escola: Resgatando o valor da Carta Pessoal

            Com uma proposta diferenciada, os alunos do 3º ano do Ensino Médio puderam conhecer uma nova tipologia textual: a carta pessoal. Nas sequências didáticas foram enfocados como se caracterizam as cartas pessoais e sua relação com as mensagens eletrônicas, bem como sua finalidade, semelhanças e diferenças entre os gêneros. Sua estrutura, linguagem e contexto de circulação. O que se diferencia dos outros gêneros narrativos, como os relatos, memórias, notícias etc. A proposta foi bem aceita pelo grupo de alunos, o que gerou um trabalho prazeroso e bem original, nas aulas de produção de textual.  
Foram levados para sala modelos de cartas de amor, originais, datadas da década de 40. Foi entregue uma cópia para cada aluno onde puderam observar a estrutura, a linguagem, o tipo de composição, contexto de circulação... Foi feita interpretação oral e escrita, o uso dos pronomes pessoais neste tipo de discurso, as diferenças com as mensagens eletrônicas (e-mails) etc. Na próxima aula, foi solicitado que trouxessem cartas antigas de parentes e amigos (com devida autorização). De início, houve resistência por parte de alguns alunos, tendo em vista a dificuldade para encontrá-las, a final a maioria acabou trazendo.  As cartas foram expostas e lidas. Trabalhou-se especificamente, neste dia, o tipo de linguagem, sua estrutura e a importância de resgatar o valor para atualidade essa tipologia textual, já esquecida nos tempos modernos.  O momento de partilha das leituras das cartas foi o mais significativo. Houve quem riu e quem chorou, ao ouvir tantos relatos comoventes, engraçados, românticos...  Os alunos ficaram impressionados com o linguajar culto, presentes em praticamente todas as cartas. O que levou a uma reflexão acerca da linguagem formal, tão ignorado pelos jovens de hoje. Foi explicado também que a carta pessoal é um gênero de circulação de natureza privada, em oposição a outros gêneros de circulação.

Alguams carta ue levadas par asal
      

O trabalho culminou na proposta de uma produção de uma carta que os alunos deveriam escrever para parente e amigos.
Houve quem escrevesse carta até na língua inglesa:    


Depoimentos de alguns alunos com relação ao projeto:



O aluno Gustavo Freitas, relatou assim a cerca de experiência:  



Gostei (e acho que todos nós alunos gostamos) da iniciativa da Profª. Patrícia em nos apresentar o gênero ‘Cartas’... O trabalho realizado em sala de aula foi excelente, principalmente quando discutimos a importância que a carta tem e, principalmente, a importante função que ela exerceu nas gerações passadas, quando os meios de comunicação não eram ‘evoluídos’ como hoje. Foi realizada uma apresentação interessante e muito inteligente, onde os alunos deviam conseguir cartas que fizeram parte do passado de alguém. Nós, alunos, apresentamos cartas muito legais, observando tudo que as Cartas escritas há décadas atrás. Pudemos perceber que as cartas eram muito bem elaboradas e que havia muito ‘sentimento’ nos relatos apresentados nela. Além disso, acho que será inesquecível o fato de termos descoberto o quanto a carta foi importante um dia...”

      

 “Mas, o melhor de tudo foi às cartas enviadas e recebidas de amigos ou parentes que moram longe. Pois foi um ótimo incentivo a escrita, fazendo o aluno deixar um pouco o computador para treinar sua redação e ter melhor capacidade de redigir textos, etc... João Eugênio


“O trabalho com a produção de cartas, pouco usadas por nós jovens, resgatou um mundo desconhecido por nós jovens, com linguagem sem gírias, abreviações, tesouros que muitos  nunca teriam a oportunidade de conhecer . Cartas que muitas vezes falavam de amor, corações apaixonados, mensagens de urgência que quando chegada ao seu destino eram tarde demais. Cartas e cartas foram lidas, cada uma com seu jeito, mas toda a expressão o verdadeiro português que hoje não se usa mais.” ( Turricelli Rezende Turrioni)

Para aluna Isabela Brito:  

“As aulas de produção de texto estão cada vez mais interessantes. Os temas que são propostos vão melhorando gradativamente. Mas o que mais gostei foi sobre Cartas, porque além de chamar muita a minha atenção, mexeu com toda a sala. Eu não consigo entender porque as cartas foram jogadas ao mar do esquecimento, pelo fato de ser algo tão empolgante!”


Já para aluna Taísa Vanessa

Hoje em dia ninguém escreve mais cartas, apenas teclam! Um hábito que era tão comum antes do advento do computador, ficou no passado, virou histórias de nossos pais e avós. As cartas possuem grande valor emocional, pois são escritas em momentos extremos da vida de cada um, que permitem retratar situações únicas.
A aula da professora Patrícia nos permitiu ver as cartas de outra maneira, na qual o ato de escrever é uma arte, e como tal deverá ser estimulada e preservada, jamais renegada ao esquecimento, além de ter muito valor, sejam emotivos ou práticos, e nos ajuda a pensar duas vezes antes de enviar para quem amamos, pois exercitam nossa escrita de maneira mais formal.”



“Na sociedade contemporânea o que era pra ser considerado um ato romântico ou educado vem sendo julgado como tolice ou bobagem, atrofiando assim, a mente do ser humano. E não é de se espantar o crescente número de mulheres que se interessam por homens cada vez mais velhos.
Como tudo se moderniza, as formas de comunicação não ficam para trás. Os e-mails são considerados as cartas da atualidade. O que levava dias e até semanas para chegarem ao local de destino, hoje acontecem em questão de minutos. E o mais interessante: todo o cuidado de se escrever uma carta, que poderia levar semanas para serem escritas, foram substituídas pelo pratico “simples e direto” do e-mail, que não demora mais que poucos minutos, e olhe lá! Toda a formosura e o cuidado foram esquecidos pelo rápido e pratico. Era notável o sentimento. Era espantoso o quão as palavras eram bem escritas, com toda formalidade. Lamentavelmente o ‘falar bem e correto’ vem sendo confundidos com ‘besteira’. Erros ortográficos e abreviaturas estão em seu ápice. Hoje o único sentimento que se pode notar é a tristeza, pelo quanto o ser humano está deixando para trás tudo o que realmente tem valor.
Aliás, é muito mais prático gastar trinta segundos teclando seu amor, do que expressar com a caneta tudo que o coração pode sentir...”


Referência Bibliográfica:
Abaurre, Maria Luiza e Abaurre Maria Bernadete. Produção de texto: interlocução e gêneros. São Paulo – Moderna, 2007

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