No nosso quotidiano usamos
constantemente a linguagem: das conversas entre amigos às intervenções nas
aulas, das pequenas mensagens SMS aos trabalhos escolares, a língua é o
instrumento permanentemente usado. E se é verdade que a maior parte desses atos
de comunicação tem um caráter informativo, não é menos verdade que um bom
número deles tem um caráter argumentativo. Quando queremos defender um ponto de
vista, quando apresentamos a nossa opinião, quando propomos uma solução para um
problema ou quando queremos convencer os outros a aceder a um pedido nosso,
temos que argumentar. Na verdade, pensando bem, argumentamos muito e muito
frequentemente. Por vezes enfrentamos a oposição dos outros e então temos que
argumentar ainda melhor para os convencer. E argumentar bem é um ato de
inteligência que, para ser eficaz, tem as suas regras.
O que é argumentar?
Argumentar é, pois, expressar uma convicção,
um ponto de vista, que é desenvolvido e explicado de forma a persuadir o
ouvinte/leitor. Para isso, é necessário que apresentemos um raciocínio coerente
e convincente, baseado na verdade, e que influencie o outro, levando-o a
pensar/agir em conformidade com os nossos objetivos.
Argumentar é o mesmo que persuadir?
Argumentar é persuadir racionalmente,
mas nem toda a persuasão é racional. Há a persuasão emocional, muito usada, por
exemplo, em publicidade. (Quando um anúncio publicitário nos convence a comprar
um determinado produto, não pelas qualidades desse produto que responde a
necessidades nossas, mas porque, ao associar essa marca a um determinado padrão
de vida, nos leva a crer que adquirindo aquele artigo passaremos a usufruir
desse padrão de vida). A diferença entre a persuasão racional e a emocional reside
no fato de, na primeira, se fazer apelo à razão, enquanto na segunda, se apelar
a desejos, sentimentos, medos, emoções, frustrações.
O que é um texto argumentativo?
O texto argumentativo é, então, o que
visa convencer, persuadir ou influenciar o ouvinte/leitor, ao qual se apresenta
um ponto de vista - uma tese - cuja veracidade se demonstra e prova. Como?
Começando por apresentar a tese, a partir da qual se desenvolve o raciocínio, a
argumentação, constituída por um conjunto de argumentos logicamente encadeados,
sustentados em provas e, normalmente, ilustrados e credibilizados por exemplos.
E o que é um argumento? Argumento é uma quantidade de informação ou de dados
organizados – as premissas – que sustentam o ponto de vista e conduzem à
conclusão da veracidade da tese que se pretende defender.
Quando temos que construir um texto
argumentativo?
Na vida escolar, na vida profissional,
e no exercício da nossa cidadania, precisamos, com frequência, de elaborar
textos argumentativos. A dissertação, o comentário, a exposição
escrita, mas também um simples artigo de opinião ou uma crítica
de cinema ou de música exigem a elaboração de um texto argumentativo bem
estruturado, segundo um esquema lógico. Do mesmo modo, a intervenção num debate
ou numa reunião, uma campanha para a associação de estudantes,
um discurso político ou uma alegação judicial obrigam a uma
construção argumentativa muito cuidada.
Como
se constrói um texto argumentativo?
I - Estrutura do texto / Progressão
temática
1. Introdução: Parágrafo inicial no qual se
apresenta a proposição (tese, opinião, declaração). Deve ser apresentada de
modo afirmativo, claro e bem definido, sem referir ainda quaisquer razões ou
provas.
2. Desenvolvimento: Análise/explicitação da
proposição apresentada; apresentação dos argumentos que provam a verdade da
proposição: fatos, exemplos, citações, testemunhos, dados estatísticos.
.
Conclusão: Parágrafo final, no qual se conclui
com uma síntese da demonstração feita no desenvolvimento.
II - Escolha e ordenação dos
argumentos
Para uma correta construção
argumentativa, é fundamental a escolha dos argumentos que suportam a
demonstração da verdade da tese. Eles devem ser pertinentes e coerentes
apresentados, de forma lógica e articulados. Assim deve-se:
• encontrar os argumentos adequados;
• recorrer, sempre que possível e desejável, à
exemplificação, à citação, à analogia, às relações
causa-efeito;
• organizar os argumentos por ordem crescente de
importância, do menos para o mais importante.
III - Adequação do texto ao objetivo e
ao destinatário
A construção de um texto argumentativo
deve ter em conta a sua finalidade e também o leitor/ouvinte ao qual se destina
(para informar, convencer, emocionar). Deve, pois:
• usar um registo adequado à situação e ao destinatário;
• utilizar referências de conteúdo que o destinatário
possui, de forma a que este o possa interpretar corretamente.
IV - Articulação e progressão do
discurso
O texto deve apresentar-se como um
todo coeso e articulado, através do estabelecimento de uma rede de relações
lógicas entre as palavras, as frases, os períodos e os parágrafos que o
constituem. Deve, além disso, recorrer a processos de substituição, usando
palavras ou expressões no lugar de outras usadas anteriormente. Deve igualmente
corresponder à construção de um raciocínio que se vai desenvolvendo
gradualmente. Estas características são conseguidas através da correta
utilização e combinação dos elementos linguísticos do texto:
• correta estruturação e ordenação das frases;
• uso correto dos conectores do discurso;
• respeito pelas regras de concordância;
• uso adequado dos pronomes que evitam as repetições do
nome;
• utilização de um vocabulário variado, com recurso a sinônimos,
antônimos, hiperônimos e
hipônimos.
A progressão e articulação do texto é
conseguida sobretudo através do uso de conectores ou articuladores do discurso
que vão fazendo progredir o texto de uma forma coerente e articulada.
Conectores do discurso
Vimos que, para cumprir o seu objetivo
- persuadir - o texto argumentativo deve apresentar-se como uma construção
lógica, na qual o raciocínio é apresentado de forma progressiva e articulada.
Para isso, é fundamental uma boa utilização dos articuladores ou conectores do
discurso - advérbios, locuções
adverbiais, conjunções, locuções
conjuncionais e mesmo
orações completas. Alguns desses
articuladores, utilizados em qualquer tipo de texto, são
recorrentes no texto argumentativo.
Articuladores Argumentativos
para reiterar,reafirmar: retomando
a questão, penso que, a meu ver, creio que, estou certo, em nosso entender
para concordar, provar, exprimir certeza: efetivamente,
com efeito, sem dúvida, na verdade, certamente, de certo, com toda a
certeza, evidentemente, é evidente que, obviamente, é óbvio que
para refutar, manifestar oposição, restringir
idéias: no entanto, mas, todavia, contudo,
porém, apesar de em sentido contrário, refutando, peto contrário, ao
contrário por outro lado, com a ressalva de
para exemplificar: por
exemplo, como se pode ver, assim, tome-se como exemplo, é o caso de, é o
que acontece com
para explicitar: significa
isto que, explicitando melhor, não se pretende com isto, quer isto dizer, a saber,
isto é, por outras palavras
para concluir finalmente, enfim, em conclusão, concluindo,
para terminar, em suma, por conseguinte,
por consequência
para estabelecer conexões de tempo: então, após, depois, antes,
anteriormente, em seguida, seguidamente, quando, até que, a princípio,
por fim
para referenciar espaço: aqui,
ali, lá, acolá, além, naquele lugar, o lugar onde, ao lado de, à esquerda, à
direita, ao centro, no meio, mais adiante
para indicar ordem: em primeiro lugar, primeiramente, em
segundo lugar, seguidamente, em seguida, começando por, antes de mais, por
último, por fim
para estabelecer conexões de causa porque, visto que, dado que, uma vez
que
para estabelecer conexões de
conseqüência: de tal modo que, deforma que, tanto
que, e por isso
para expressar condição, hipótese: se,
a menos que, a não ser que, desde que, supondo que, se por hipótese, admitindo
que, exceto se, se por acaso
para estabelecer conexões de fim: para que, para, com o fim de, afim de
que, com o intuito de
para estabelecer relações aditivas: e, ora, e também, e ainda
para estabelecer relações disjuntivas:
ou, ou então, seja...
seja, quer...quer
para expressar semelhança, comparação:
do mesmo modo, tal
como, pelo mesmo motivo, pela mesma razão, igualmente, assim como
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