terça-feira, 3 de maio de 2011

Quando usamos a argumentação?



 

No nosso quotidiano usamos constantemente a linguagem: das conversas entre amigos às intervenções nas aulas, das pequenas mensagens SMS aos trabalhos escolares, a língua é o instrumento permanentemente usado. E se é verdade que a maior parte desses atos de comunicação tem um caráter informativo, não é menos verdade que um bom número deles tem um caráter argumentativo. Quando queremos defender um ponto de vista, quando apresentamos a nossa opinião, quando propomos uma solução para um problema ou quando queremos convencer os outros a aceder a um pedido nosso, temos que argumentar. Na verdade, pensando bem, argumentamos muito e muito frequentemente. Por vezes enfrentamos a oposição dos outros e então temos que argumentar ainda melhor para os convencer. E argumentar bem é um ato de inteligência que, para ser eficaz, tem as suas regras.

O que é argumentar?

 Argumentar é, pois, expressar uma convicção, um ponto de vista, que é desenvolvido e explicado de forma a persuadir o ouvinte/leitor. Para isso, é necessário que apresentemos um raciocínio coerente e convincente, baseado na verdade, e que influencie o outro, levando-o a pensar/agir em conformidade com os nossos objetivos.

Argumentar é o mesmo que persuadir?

Argumentar é persuadir racionalmente, mas nem toda a persuasão é racional. Há a persuasão emocional, muito usada, por exemplo, em publicidade. (Quando um anúncio publicitário nos convence a comprar um determinado produto, não pelas qualidades desse produto que responde a necessidades nossas, mas porque, ao associar essa marca a um determinado padrão de vida, nos leva a crer que adquirindo aquele artigo passaremos a usufruir desse padrão de vida). A diferença entre a persuasão racional e a emocional reside no fato de, na primeira, se fazer apelo à razão, enquanto na segunda, se apelar a desejos, sentimentos, medos, emoções, frustrações.

O que é um texto argumentativo?

O texto argumentativo é, então, o que visa convencer, persuadir ou influenciar o ouvinte/leitor, ao qual se apresenta um ponto de vista - uma tese - cuja veracidade se demonstra e prova. Como? Começando por apresentar a tese, a partir da qual se desenvolve o raciocínio, a argumentação, constituída por um conjunto de argumentos logicamente encadeados, sustentados em provas e, normalmente, ilustrados e credibilizados por exemplos. E o que é um argumento? Argumento é uma quantidade de informação ou de dados organizados – as premissas – que sustentam o ponto de vista e conduzem à conclusão da veracidade da tese que se pretende defender.

Quando temos que construir um texto argumentativo?

Na vida escolar, na vida profissional, e no exercício da nossa cidadania, precisamos, com frequência, de elaborar textos argumentativos. A dissertação, o comentário, a exposição escrita, mas também um simples artigo de opinião ou uma crítica de cinema ou de música exigem a elaboração de um texto argumentativo bem estruturado, segundo um esquema lógico. Do mesmo modo, a intervenção num debate ou numa reunião, uma campanha para a associação de estudantes, um discurso político ou uma alegação judicial obrigam a uma construção argumentativa muito cuidada.


Como se constrói um texto argumentativo?



I - Estrutura do texto / Progressão temática

1. Introdução: Parágrafo inicial no qual se apresenta a proposição (tese, opinião, declaração). Deve ser apresentada de modo afirmativo, claro e bem definido, sem referir ainda quaisquer razões ou provas.
2. Desenvolvimento: Análise/explicitação da proposição apresentada; apresentação dos argumentos que provam a verdade da proposição: fatos, exemplos, citações, testemunhos, dados estatísticos.
.
Conclusão: Parágrafo final, no qual se conclui com uma síntese da demonstração feita no desenvolvimento.

II - Escolha e ordenação dos argumentos

Para uma correta construção argumentativa, é fundamental a escolha dos argumentos que suportam a demonstração da verdade da tese. Eles devem ser pertinentes e coerentes apresentados, de forma lógica e articulados. Assim deve-se:
• encontrar os argumentos adequados;
• recorrer, sempre que possível e desejável, à exemplificação, à citação, à analogia, às relações
causa-efeito;
• organizar os argumentos por ordem crescente de importância, do menos para o mais importante.

III - Adequação do texto ao objetivo e ao destinatário

A construção de um texto argumentativo deve ter em conta a sua finalidade e também o leitor/ouvinte ao qual se destina (para informar, convencer, emocionar). Deve, pois:
• usar um registo adequado à situação e ao destinatário;
• utilizar referências de conteúdo que o destinatário possui, de forma a que este o possa interpretar corretamente.

IV - Articulação e progressão do discurso
           
O texto deve apresentar-se como um todo coeso e articulado, através do estabelecimento de uma rede de relações lógicas entre as palavras, as frases, os períodos e os parágrafos que o constituem. Deve, além disso, recorrer a processos de substituição, usando palavras ou expressões no lugar de outras usadas anteriormente. Deve igualmente corresponder à construção de um raciocínio que se vai desenvolvendo gradualmente. Estas características são conseguidas através da correta utilização e combinação dos elementos linguísticos do texto:

• correta estruturação e ordenação das frases;

• uso correto dos conectores do discurso;

• respeito pelas regras de concordância;

• uso adequado dos pronomes que evitam as repetições do nome;

• utilização de um vocabulário variado, com recurso a sinônimos, antônimos, hiperônimos e
hipônimos.

A progressão e articulação do texto é conseguida sobretudo através do uso de conectores ou articuladores do discurso que vão fazendo progredir o texto de uma forma coerente e articulada.


Conectores do discurso

Vimos que, para cumprir o seu objetivo - persuadir - o texto argumentativo deve apresentar-se como uma construção lógica, na qual o raciocínio é apresentado de forma progressiva e articulada. Para isso, é fundamental uma boa utilização dos articuladores ou conectores do discurso - advérbios, locuções
adverbiais, conjunções, locuções conjuncionais e mesmo orações completas. Alguns desses
articuladores, utilizados em qualquer tipo de texto, são recorrentes no texto argumentativo.

Articuladores Argumentativos

para reiterar,reafirmar:  retomando a questão, penso que, a meu ver, creio que, estou certo, em nosso entender

para concordar, provar, exprimir certeza:  efetivamente, com efeito, sem dúvida, na verdade, certamente, de certo, com toda a certeza, evidentemente, é evidente que, obviamente, é óbvio que

para refutar, manifestar oposição, restringir idéias:  no entanto, mas, todavia, contudo, porém, apesar de em sentido contrário, refutando, peto contrário, ao contrário por outro lado, com a ressalva de

para exemplificar:  por exemplo, como se pode ver, assim, tome-se como exemplo, é o caso de, é o
que acontece com

para explicitar:  significa isto que, explicitando melhor, não se pretende com isto, quer isto dizer, a saber, isto é, por outras palavras

para concluir finalmente, enfim, em conclusão, concluindo, para terminar, em suma, por conseguinte,
por consequência

para estabelecer conexões de tempo: então, após, depois, antes, anteriormente, em seguida, seguidamente, quando, até que, a princípio, por fim

para referenciar espaço:  aqui, ali, lá, acolá, além, naquele lugar, o lugar onde, ao lado de, à esquerda, à
direita, ao centro, no meio, mais adiante

para indicar ordem: em primeiro lugar, primeiramente, em segundo lugar, seguidamente, em seguida, começando por, antes de mais, por último, por fim

para estabelecer conexões de causa porque, visto que, dado que, uma vez que

para estabelecer conexões de conseqüência:  de tal modo que, deforma que, tanto que, e por isso

para expressar condição, hipótese:  se, a menos que, a não ser que, desde que, supondo que, se por hipótese, admitindo que, exceto se, se por acaso

para estabelecer conexões de fim: para que, para, com o fim de, afim de que, com o intuito de

para estabelecer relações aditivas: e, ora, e também, e ainda

para estabelecer relações disjuntivas: ou, ou então, seja... seja, quer...quer

para expressar semelhança, comparação: do mesmo modo, tal como, pelo mesmo motivo, pela mesma razão, igualmente, assim como

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